Morando (e trabalhando) num Conteiner

Quando teve de procurar um novo lar, a arquiteta Carla Dadazio apostou em uma solução nada convencional, porém rápida, econômica e, ainda por cima, portátil: um par de contêineres.

Autora de projetos comerciais que se valem do mesmo recurso, a arquiteta de Valinhos, SP, conhece bem as vantagens da utilização dos compartimentos de transporte de carga. Além de mais ágil, a obra chega a ser 30% mais barata do que uma convencional. Requer, no entanto, o aval da prefeitura, como qualquer outra. E, depois de pronta, a construção fica sujeita a todas as tributações enquanto estiver ocupando o terreno – neste caso, trata-se de um espaço destinado a empreendimentos temporários, como quiosques e lojas do tipo pop-up. Esta alternativa traz ainda outro importante benefício: a facilidade para desmontar e transportar toda a estrutura para um novo endereço. Basta remover vidros e louças – o restante, afinal, já vive encaixotado!



A arquiteta Carla Dadazio elegeu dois contêineres usados, do tipo Hc (High cube), com 12 m de comprimento, 2,45 m de largura e 2,70 m de altura interna – cerca de 30 cm a mais de pé-direito do que os modelos-padrão. Incluindo os gastos com transporte, colocação por munck (uma espécie de guindaste), instalações elétrica e hidráulica e acabamentos, a soma ficou em torno de R$ 60 mil.

Quatro pontos de apoio sustentam cada módulo. O de cima fica suspenso por vigas metálicas, feitas por um serralheiro e dimensionadas para suportar uma carga maior que a prevista no cálculo estrutural. Para contrapor ao visual pesado, os contêineres ganharam cores modernas: ipê roxo (ref. e088) para o inferior e pé de serra (ref. p326) para o superior, ambas da Suvinil. Já para o topo do segundo andar, a eleita foi a tinta branca, que reflete a luz do sol e, assim, ajuda a trazer conforto térmico.

“As aberturas das janelas foram cortadas em diferentes formatos para demonstrar as possibilidades”, explica a arquiteta. No escritório, por exemplo, há rasgos verticais em uma parede e um grande círculo em outra. Para assegurar a temperatura agradável, cada contêiner foi equipado com dois aparelhos de ar condicionado, um com potência de 18 mil BTUs e outro de 9 mil BTUs.


O escritório fica no térreo: para tirar melhor proveito da planta retangular de 30 m², quase não há divisões entre os cômodos. Os dois lavabos (1), que contam com paredes de drywall, isolam a estação de trabalho (2) da arquiteta. A ala maior reúne a recepção (3) e a sala de reuniões (4), delimitada por duas poltronas, uma preta e outra branca. Projeto de Carla Dadazio.

Construído a partir da reciclagem de várias espécies de madeira, um deque contorna o primeiro andar. “Quando tiver de ser retirado, todo esse material poderá ser utilizado outra vez”, ressalta a arquiteta Carla. Outros elementos recicláveis se integram ao projeto, a exemplo do piso intertravado, que permite a remoção dos blocos sem quebra-quebra, e do muro de tijolos ecológicos fixados com cola branca. Só no caso deste, haverá perda de 30% na desmontagem, referente aos trechos de alvenaria.



 


Seguindo a mesma estética, os conduítes que abrigam a fiação elétrica ficam aparentes e fazem conjunto com o trilho sob o qual correm os spots de iluminação. Ainda compõem o visual industrial o cone de sinalização, transformado em porta-guarda-chuva, e o tonel preto, que apoia a pia, instalada em frente aos lavabos. Isolamento térmico é importante neste tipo de projeto. Por isso, uma camada de isopor foi aplicada sob o deque.



Um piso para chamar de lar: no segundo andar, também há setorização sem divisórias. Com cama de solteiro e armário, o quarto de hóspedes (1) ocupa um dos cantos. Junto à entrada, cozinha e jantar (2) são seguidos da pequena sala de estar (3). Por fim, o banheiro (4) isola o quarto da moradora (5).



Houve uma razão estratégica para os contêineres terem sido colocados em posições desencontradas: dessa maneira, parte do topo do módulo inferior pôde ser aproveitada para a criação de um local de convivência logo na entrada do superior. O acesso se dá por uma escada de metal pintada com esmalte preto fosco. Idealizado como um solário, o ambiente ganhou deque linear de madeira, mesa com cadeiras para receber as visitas, gramado e vasos com plantas, como a dracena-tricolor, além de outras espécies resistentes. “Abusei das suculentas, pois requerem pouca manutenção e ficam lindas em conjunto”, observa a arquiteta Carla Dadazio.



A arquiteta Carla Dadazio continuou a explorar formatações variadas de cortes para as janelas. Bem diante da entrada, por exemplo, três rasgos horizontais deixam a luz natural entrar no espaço correspondente à cozinha e à sala de jantar. A bancada da pia veio de uma ponta de estoque. Sobre ela, o micro-ondas dá conta do preparo das refeições. “Não há restrições para colocar um fogão no contêiner. O caso é que não cozinho mesmo!”, brinca.






















Em oposição ao clima industrial do escritório, o segundo pavimento recebeu ares mais aconchegantes. A começar pelo compensado do chão, coberto com piso vinílico imitando madeira. Além da estética, a decisão foi motivada por uma questão prática. “Tenho cachorro, e esse tipo de revestimento é mais fácil de limpar”, justifica a arquiteta Carla Dadazio. Acima da mesa de jantar, a luminária, praticamente idêntica à do piso de baixo, também foi encontrada e reformada por Carla.


Para seu quarto, a arquiteta Carla Dadazio reservou uma janela panorâmica: a abertura, guarnecida de vidro temperado, toma quase toda a extensão de uma das laterais menores do contêiner. A cortina de voal preto assegura a privacidade e barra a entrada do sol. O roxo, que se destaca na área de trabalho, no andar de baixo, reaparece no dormitório – detalhes como o abajur, a almofada e os enfeites de parede contrastam com branco, preto e madeira, as tonalidades neutras que dão unidade ao projeto.

 


E aí, moraria em um conteiner também?

BeiJUcas!

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